O QUE TU ÉS

Na minha apresentação escrevi: " Certamente, quase nada do que dizemos somos, mas sim praticamente tudo o que fazemos!"

Quão verdade são tais palavras, o que não é novidade para ninguém...mas em nossas vidas essas mesmas palavras parecem não fazer sentido, são desprezadas, esquecidas...e por isso existe outra palavra, desculpa, nada britânica...sempre atrasada, vem porque nos esquecemos do que somos, querendo apenas ser o que desejaríamos e outrora verbalizámos...

E assim lembro este soneto de Florbela Espanca,

O que tu és
(O que sou...)

És aquela que tudo te entristece,
Irrita e amargura, tudo humilha;
Aquela a quem a Mágoa chamou filha;
A que os homens e a Deus nada merece.

Aquela que o sol claro entenebrece,
A que nem sabe a estrada que ora trilha,
Que nem um lindo amor maravilha
Sequer deslumbra, e ilumina, e aquece!

Mar Morto sem marés nem ondas largas,
a rastejar no chão, como as mendigas,
Todo feito de lágrimas amargas!

És o ano sem Primavera...
Ah! Não seres como as outras raparigas
Ó Princesa Encantada da Quimera!...

Florbela Espanca



É o que sou, pois nas palavras de Florbela encontro o que não consigo verbalizar!
Sentimentos de lágrimas amargas que silenciosamente constróem um mar morto, sem ondas... ou talvez nem isso... Sou apenas .... um grão, sem direito a sentir!


Recolho-me no meu antro de pensamentos...